quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Conflito



Alguém poderia me dizer o que eu nunca fiz pra ficar de bem com a vida?
Onde eu errei em tudo? Por que nunca consegui me levar em frente?
Só dentro de mim que fica, só eu vejo o que faço. Tenho medo de que, talvez, eu não tenha feito nada certo mesmo, eu apenas não sei olhar pra mim e ver que tudo foi errado.
Existem pessoas que nascem pra passar a vida inteira sem saber viver direito, passando dos limites, criando problemas para outras pessoas, acabando consigo mesmo. Devo ser uma delas. Não consigo me encaixar na felicidade comum, na paz comum, que sei que é a melhor.
Penso que tudo que eu fiz por mim, na verdade eu fiz pelas pessoas que eu precisava comigo, porque procuro felicidade e paz comum nas pessoas. Esqueço que elas, tão livres e vivas, não precisam de mim, de meus cuidados que parecem tão egoístas.
Sinto como se existisse duas dentro de mim; uma é morta, calada, fraca. A outra tem sempre que cuidar da morta, porque ela depende da morta pra ser feliz, ela precisa ser forte, se sacrificar e fazer tudo que pode pra a morta começar a viver e enfim, as duas se unirem e viverem na felicidade e paz normal. A forte já está tão cansada, ela não aguenta mais fazer tudo sozinha, não aguenta mais se culpar e se ferir por não conseguir ressucitar sua metade.
A forte às vezes tem muita raiva da morta, de vez em quando vai visitá-la e sempre acaba em briga:

-Você quer me matar junto com você? Eu estou fazendo de tudo para que possamos viver e você insiste em me puxar aqui, pra essa cova da qual você não quer sair? Eu juro, que eu não vou morrer com você, mesmo que pra isso eu tenha que fazer tudo sozinha.

A morta, sempre conformada, diz:
- Você não vê que já morremos? Não entendo porque ficar sofrendo mais em busca de algo que você nem sequer sabe se existe. Quem te enfiou na cabeça isso de "felicidade e paz normal" ?

A conversa sempre acaba assim. A Forte vai embora chorando, enquando a Morta volta a ficar muda.
A Forte sabe que é muito atrapalhada e não sabe fazer as coisas direito, esse desejo absurdo que tem de "felicidade e paz normal" faz com que ela seja desesperada demais. Se ela pudesse se livrar da Morta e seu pessimismo, ela poderia viver melhor, mas não há nenhuma forma de fazer isso. Ela pensa em desistir quando as coisas não dão certo, pensa em ir junto com a morta mesmo, mas ela sabe que tem tantas coisas boas além disso, que tudo pode ser tão maravilhoso... É aí que ela volta a sonhar e recomeça sua busca.

Quando isso vai se resolver? Não sei. Só sei que é muito confuso querer viver e morrer ao mesmo tempo.

4 comentários:

Sara disse...

Desfaz esse nó, a morta não soma em nada. Pessimismo já basta na pirraça de viver.

"Continuo a construir casas na minha cabeça, para depois dinamitá-las"

monamm disse...

Esse é o mal de quem resolve fugir da ignorância. Entendi a metáfora da seguinte forma, a inquieta é a viva, a forte e portanto a parte dominante da sua personalidade, é a que busca através do conhecimento alcançar a felicidade, é ela quem vê o mundo como ele é e é também a que está constantemente se decepcionando com o que encontra no mundo. Já a morta é a q deseja viver na ignorância, fechar os olhos pra tudo q tem de ruim no mundo e simplesmente deixar que as coisas aconteçam, ela é a Macabéa da sua personalidade, a imagem do conformismo ou da desistencia. O que acho é que pra continuar saudável vc terá sempre que lidar com essa eterna luta interna pq se algum dos dois lado cede vc perde o equilíbrio.

Igor Von Richthofen disse...

É complicado quando se quer muito as duas coisas...guerras internas podem ser as mais devastadoras, depende do inferno que se cria na cabeça. O meu é um bichinho bastante arredio hehe

MADALENA MOOG disse...

Vá lavar os pratos e o banheiro, vá!