Sacudindo a poeira

Cada vez que abro a página desse blog tenho crise de alergia.

Minha rotina mudou muito de uns tempos pra cá. Não sei se me acho uma pessoa mais equilibrada ou mais neurótica, acho que tudo mudou em diversos aspectos.
As mudanças precisam continuar, não posso estacionar agora, corro o risco de ocupar uma vaga para deficientes. Estou pensando em pintar minhas paredes de azul, o azul é uma cor muito aconchegante para um quarto, e já estou cansada de todos esses papéis nostálgicos que tenho que olhar antes de fechar os olhos. Meu quarto tem um ar amarelo, não só ele como toda minha casa, me sinto no sol do meio-dia dentro de uma cabine telefônica. Preciso mudar a cor dos meus dias, estou decidida!
Conclui essa semana que aprendo muitas coisas andando de ônibus com meus caros e breves amigos passageiros. Esta semana sentei ao lado de uma "senhora" que me observava o tempo inteiro, eu como sempre muito discreta arrancava os cabelos que caiam o tempo inteiro da minha cabeça, a mulher não resistiu e falou: "minha filha, você está com queda de cabelo?" eu respondi que sim, e ela me diz "ah eu tenho uma ótima receita para isso, lave os cabelos com água de côco... é tiro e queda". Eu me imagino lavando os cabelos com água de côco e as formigas me rodeando. Outra vez sento atrás de um casal de estudantes de enfermagem que não paravam de falar, ele gay e ela suspeita sexual. O homem passou a viagem inteira falando em como as pessoas de colégio público se dão mal em faculdades e consequentemente na vida, tive vontade de chorar! A última vez que me ocorreu uma situação bizarra em ônibus foi na última quinta-feira, eu estava me sentindo tão bem na última cadeira do ônibus, aquela alta, do lado da janela, o ônibus quase vazio e o tempo nublado, olhava pela janela e pensava no quanto eu exagero os acontecimentos, que na verdade tudo é muito belo, a vida é linda e eu sou dramática. Cinco minutos depois entra um senhor de semblante intimidante e vai para a primeira cadeira ao lado do motorista para pregar a palavra de Deus. Por uma coincidência incrível o ônibus chega na avenida Epitácio Pessoa e ele começa a lotar, e também por coincidência quem senta do meu lado é uma gorda com aquele aroma horroroso de jogador de futebol. O pregador abre os pulmões para falar que Deus existe, Jesus está voltando e ele será salvo com a graça de Deus, sinto vontade de perguntar o porque do atraso do senhor Jesus, por acaso não passa o circular onde ele mora? O ônibus já está lotadíssimo! O pregador se sente como um político em seu comício no centro da cidade, grita em êxtase que Deus está vendo tudo que nós fazemos e que naquele momento ele lê os pensamentos de cada pessoa dentro daquele ônibus! As pessoas todas suadas se encostam uma na outra com aquele semblante de sofrimento, cansaço e depressão, alguém que pare pra analisar o rosto das pessoas que andam de ônibus lotado voltando do trabalho ou escola, sente a dor da vida na alma. Enfim vou descer na próxima parada, me esforço entre as barrigas e pênis para chegar a frente onde está o pregador, escuto suas últimas palavras: "Quem aqui irmãos, tem a coragem de aceitar Jesus agora? quem aqui em público aceita Jesus? levante a mãooooo!" ninguém moveu sequer um músculo do dedo, ninguém aceitou Jesus e sua glória, pobre pregador... terá de arrumar um outro emprego. Desço do ônibus pensando em como sempre estive certa sobre a vida.